Performance alimentar na demência de Alzheimer
- Jean Carlo Freitas
- 23 de set. de 2019
- 4 min de leitura
Dra. Juliana VenitesGraduada pela Universidade São Camilo. Especialista em gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Especialista em motricidade orofacial pelo Conselho Federal de fonoaudiologia. Mestre em Ciências pelo Departamento de Reabilitação da Unifesp e doutora em Ciências pelo Departamento de Distúrbios da Comunicação Humana da mesma universidade. Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo
O aparecimento da disfagia é esperado na demência de Alzheimer. Todavia, o acompanhamento fonoaudiológico acontece ainda tardiamente, na maioria das vezes quando evidentes sinais clínicos de broncoaspiração já estão instalados.
A investigação da performance alimentar deve estar presente nas anamneses de médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas.
A tabela a seguir descreve os sinais e sintomas que podem indicar a presença da disfagia, mesmo antes da ocorrência de broncoaspiração ou da perda de peso:
Monitorar o aparecimento dos primeiros sintomas da disfagia e realizar o encaminhamento para a fonoterapia pode prolongar a boa performance alimentar, evitando sempre que possível a utilização de vias alternativas de alimentação, já que não há evidências científicas de que este uso aumenta a sobrevida ou previne a broncoaspiração. É necessário ressaltar que encaminhar o paciente para a fonoterapia não significa submetê-lo a mais um tratamento prolongado ou oneroso. Se realizado no momento correto, ela pode envolver o estabelecimento de uma linha de cuidados alimentares que vão garantir sua melhor performance de deglutição. Há dois importantes focos estabelecidos para essa linha de cuidados: Foco na alimentação 1. Determinação da via alimentar Os dados da avaliação fonoaudiológica fornecerão condições para que o fonoaudiólogo determine a via alimentar do paciente, podendo ser: - oral - enteral: sonda nasoenteral ou gastrostomia - mista: utilização de ambas as vias quando existe ingestão insuficiente ou durante o início da reabilitação 2. Determinação da consistência da dieta Ao fazer a opção pela via oral ou mista, deve-se em seguida determinar a consistência da dieta a ser oferecida diante de seu desempenho na avaliação clínica funcional. - Dieta geral: alimentos em todas as consistências, com grande demanda mastigatória - Dieta branda: alimentos mais amolecidos, com demanda mastigatória moderada - Dieta pastosa: alimentos bastante amolecidos e bem cozidos, com pouca demanda mastigatória - Dieta pastosa geriátrica: alimentos em consistência de purê, sem demanda mastigatória Foco no cuidado 1. Posicionamento para receber a dieta: Deve ser sentado (cadeira ou leito) a 90º. Para tanto, o paciente necessita de: - Auxílio total - Auxílio parcial - Nenhum auxílio 2. Dependência alimentar: - Alimentação com assistência total: não leva o alimento à boca; o mesmo precisa ser oferecido - Alimentação com assistência parcial: necessita apenas que sirvam a mesa. Consegue separar o bocado e levá-lo à boca - Alimentação sem assistência: não necessita de nenhum auxílio. 3. Higiene oral: Evita infecção por colonização de bactérias, assim como a aspiração de partículas de alimentos. - Higiene realizada pelo próprio paciente, sem nenhum auxílio - Higiene realizada pelo próprio paciente, com auxílio de um cuidador ou profissional - Higiene realizada pelo cuidador ou profissional. O paciente não tem nenhuma participação. 4. Terapia fonoaudiológica: Envolve múltiplas ações, que podem ser divididas em dois grupos: 4.1- Terapia Indireta: são técnicas que não envolvem o oferecimento do alimento. Visam à melhora da mobilidade e tonicidade da musculatura envolvida na deglutição, utilizando apenas estímulos gustativos e a deglutição da saliva. 4.2- Terapia Direta: consiste na aplicação de técnicas com o oferecimento do alimento que visam treinar ou compensar a eficiência da deglutição. O estabelecimento precoce desta linha de cuidados associado a orientação constante da família e do cuidador garantirá a melhor performance alimentar durante o percurso da demência de Alzheimer, evitando a utilização de vias alternativas de alimentação, a broncoaspiração e a desnutrição, contribuindo evidentemente para a qualidade de vida do paciente. Referências bibliográficas: 1. Bilton, T. L., Soares, L. T., & Venites, J.P. (2009). Comunicação e deglutição no idoso. In: M. R. Perracini, & C. M. Fló. Funcionalidade e envelhecimento. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan. 2. Cintra, M. T. G., Rezende, N. A., & Torres, H. O. G. (2013). Qual a via mais adequada para a alimentação de idosos com demência avançada: oral ou enteral? Rev Geriatria & Gerontologia, 7(4), 308-317. 3. Curado, A.D.F. (2010). Atenção ao idoso em domicílio - O enfoque da fonoaudiologia. In: M. A. Domingues, & N. D. Lemos (Coords.). Gerontologia: os desafios nos diversos cenários da atenção. Barueri, SP: Manole. 4. Lee, I. C., Yang, Y. H., Ho, P. S., & Lee, I. C. (2014). Chewing ability, nutritional status and quality of life. J Oral Rehabil, 41(2), 79-86. 5. Listl, S. (2014). Oral health conditions and cognitive functioning in middle and later adulthood. BMC Oral Health, 14,70. 6. Silva, A. P., Sanchez, N. E., Escamez, N. M. J., & Andrade e Silva, M. A. (2014). Método Therapy Taping ®, bandagem elástica como recurso terapêutico na clínica fonoaudiológica. Distúrbios Comun., 26(4), 805-808. 7. Venites, J. P., Ramos, L. R., Suzuki, H., Sanches, E. P., De Luccia, G., Cortes, L. S., & Bilton, T. L. (2001). Prevenção da pneumonia aspirativa em enfermaria geriátrico-gerontológica: descrição das condutas fonoaudiológicas. Rev Distúrbios da Comunicação, 13(1), 109-145. 8. Weijenberg, R. A., Lobbezoo, F., Visscher, C. M., & Scherder, E. J. (2015). Oral mixing ability and cognition in elderly persons with dementia: A cross-sectional study. J Oral Rehabil, 42(7), 481-486.
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